Javaé

Os Javaé, assim como os Karajá e os Xambioá, são um dos poucos povos indígenas da antiga Capitania de Goiás que sobreviveram às capturas e grandes mortandades promovidas pelos bandeirantes, à política repressora dos aldeamentos, às epidemias trazidas pelos colonizadores em épocas diferentes e à invasão crescente do seu território. Muitos estudos destacam a notável capacidade de resiliência cultural 1 desses povos, que souberam dialogar com as mudanças drásticas impostas pelo contato, mantendo aspectos essenciais de sua estrutura social, ritual e cosmológica.

Na literatura antropológica, existe a tendência de se considerar os Javaé como um dos “subgrupos Karajá” ou como uma das três etnias que compõem “os Karajá” em geral: os Karajá propriamente ditos, os Javaé e os Xambioá, todos habitantes imemoriais das margens do rio Araguaia. Tal perspectiva tem relação com o fato dos Javaé e Xambioá terem sido menos pesquisados que os Karajá, permanecendo em segundo plano as especificidades de cada um. Aqui os três povos falantes de dialetos da língua Karajá serão considerados mais como três etnias distintas do que como subgrupos de um mesmo povo, tendo em vista a percepção que eles têm de si próprios como povos únicos, especialmente no caso dos Javaé.

Até o início do século 20, os Javaé mantiveram-se muito mais isolados da sociedade nacional do que os seus vizinhos Karajá e Xambioá, mas as três etnias sempre tiveram um histórico de relacionamento próximo. A história do contato dos Javaé com a sociedade nacional, por exemplo, é indissociável da história do relacionamento dos Karajá com os não-índios, pois os Karajá atuaram como intermediários entre aqueles e os Javaé até o fim do século 19.

Os três grupos falam dialetos da língua Karajá e não há como negar as notáveis semelhanças em termos de organização social, rituais, mitologia ou cosmologia, embora se saiba muito pouco sobre os Xambioá. Minha pesquisa mais recente entre os Javaé, entretanto, tem revelado que as diferenças culturais em relação aos Karajá, pelo menos, são maiores do que se supunha antes.

Os próprios Javaé enfatizam bastante as diferenças e concebem a si próprios como um grupo étnico único e diferente dos Karajá e Xambioá, considerando ofensivo serem chamados de Karajá. Estes últimos são tidos pelos Javaé como um dos diversos povos ixyju 2 (“estrangeiros”), entre outras denominações que contêm uma forte conotação pejorativa, que habitam a região desde antes da colonização européia e com os quais sempre mantiveram variadas trocas. Do mesmo modo, os Karajá chamam os Javaé de ixyju e se consideram moralmente superiores. Enquanto os Javaé tentam se diferenciar dos Karajá no cenário político regional e nacional, os Xambioá (assim chamados pelos Javaé), por sua vez, buscam uma aproximação, preferindo a autodenominação “Karajá do Norte”.

Total de itens 2
Etnológico2

Total de itens encontrados: 2
Página 1 de 1

Os Javaé, assim como os Karajá e os Xambioá, são um dos poucos povos indígenas da antiga Capitania de Goiás que sobreviveram às capturas e grandes mortandades promovidas pelos bandeirantes, à política repressora dos aldeamentos, às epidemias trazidas pelos colonizadores em épocas diferentes e à invasão crescente do seu território. Muitos estudos destacam a notável capacidade de resiliência cultural 1 desses povos, que souberam dialogar com as mudanças drásticas impostas pelo contato, mantendo aspectos essenciais de sua estrutura social, ritual e cosmológica.

Na literatura antropológica, existe a tendência de se considerar os Javaé como um dos “subgrupos Karajá” ou como uma das três etnias que compõem “os Karajá” em geral: os Karajá propriamente ditos, os Javaé e os Xambioá, todos habitantes imemoriais das margens do rio Araguaia. Tal perspectiva tem relação com o fato dos Javaé e Xambioá terem sido menos pesquisados que os Karajá, permanecendo em segundo plano as especificidades de cada um. Aqui os três povos falantes de dialetos da língua Karajá serão considerados mais como três etnias distintas do que como subgrupos de um mesmo povo, tendo em vista a percepção que eles têm de si próprios como povos únicos, especialmente no caso dos Javaé.

Até o início do século 20, os Javaé mantiveram-se muito mais isolados da sociedade nacional do que os seus vizinhos Karajá e Xambioá, mas as três etnias sempre tiveram um histórico de relacionamento próximo. A história do contato dos Javaé com a sociedade nacional, por exemplo, é indissociável da história do relacionamento dos Karajá com os não-índios, pois os Karajá atuaram como intermediários entre aqueles e os Javaé até o fim do século 19.

Os três grupos falam dialetos da língua Karajá e não há como negar as notáveis semelhanças em termos de organização social, rituais, mitologia ou cosmologia, embora se saiba muito pouco sobre os Xambioá. Minha pesquisa mais recente entre os Javaé, entretanto, tem revelado que as diferenças culturais em relação aos Karajá, pelo menos, são maiores do que se supunha antes.

Os próprios Javaé enfatizam bastante as diferenças e concebem a si próprios como um grupo étnico único e diferente dos Karajá e Xambioá, considerando ofensivo serem chamados de Karajá. Estes últimos são tidos pelos Javaé como um dos diversos povos ixyju 2 (“estrangeiros”), entre outras denominações que contêm uma forte conotação pejorativa, que habitam a região desde antes da colonização européia e com os quais sempre mantiveram variadas trocas. Do mesmo modo, os Karajá chamam os Javaé de ixyju e se consideram moralmente superiores. Enquanto os Javaé tentam se diferenciar dos Karajá no cenário político regional e nacional, os Xambioá (assim chamados pelos Javaé), por sua vez, buscam uma aproximação, preferindo a autodenominação “Karajá do Norte”.